Bissexual, curioso ou inibido: o que é um hétero que se atrai por pênis?
Ana Canosa
Colunista de Universa
05/10/2024 19h00
A orientação sexual pode ser mais fluída do que pensávamos. Nem todas as pessoas estão nos extremos, ou seja, se sentem atraídas exclusivamente por pessoas do mesmo sexo ou do outro sexo, e mesmo a bissexualidade tem suas nuances.
Vejam o caso do Ulisses, que se sente atraído por mulheres, mas com frequência tem fantasias sexuais com homens. Passamos algum tempo nos debruçando sobre seus desejos, erotismo, vivências, prazeres. Não chegamos a nenhum rótulo que o identificasse, e - diga-se de passagem - isso nem deveria ser necessário, já que a identidade sexual de cada um de nós é uma somatória de fatores e a atração sexual apenas um deles.
Ele é bissexual? Heteroflexível? Heterocurioso? Homossexual inibido? Há quem se sinta mais confortável quando se vê enquadrado em algum grupo específico, mas ele já passou por essa fase, não está mais preocupado. Não se identifica como um homem gay, mas se atrai pelo pênis alheio, não o restante do corpo masculino.
Em nosso processo terapêutico, descartamos a possibilidade de ele ter uma homofobia internalizada que lhe impedisse de assumir um desejo homossexual. O clássico dos clássicos, não se aplica a seu caso. Ele já experimentou fazer sexo com outro homem e não achou a experiência super excitante. Corpos femininos lhe são bem mais atraentes.
Visitamos a possibilidade de o desejo pelo pênis ser uma espécie de fetiche, já que é uma parte exclusivamente eleita a gerar excitação. Como as pessoas que se atraem por pés, mãos, sapatos.
Embora pareça difícil colocar o pênis como um fetiche - já que muitas pessoas gostam dele - o que nos instiga é a parte destacada do restante do corpo.
Eu já vi isso acontecer, pelas avessas: mulheres, heterossexuais, que não gostam do pênis, mas que gostam de serem penetradas por ele. Não é uma aversão, ou fruto de qualquer vivência traumática - é não achar graça nenhuma naquele volume pendurado no corpo.
Já meu paciente gosta, acha bonito, interessante, erótico, sensual. Nada como um pênis em riste. Se viesse sem o restante, seria perfeito.
É preciso esclarecer que Ulisses gosta da penetração anal, ele tem vários dildos, falos realísticos, vibradores. Quando está excitado faz uso deles para se autoestimular. Uma boa suposição é que seu interesse em pênis seja reflexo desse tipo de prazer, seria como admirar uma melhor "ferramenta" para essa sua prática sexual.
Mas não é exatamente por um homem que ele gostaria de ser penetrado, prefere uma mulher. Mas não encontra muitas que se dispõem a fazer essa prática, o que lhe frustra sobremaneira.
Também houve uma reflexão sobre o pênis ser o grande protagonista da cena sexual, uma ideia bastante reforçada em nossa cultura. Como quando os homens se exibem, uns para os outros, nas brincadeiras pueris.
Existe até um termo que se encaixa nessa perspectiva, a tal "broderagem", quando homens se permitem manipular os pênis um dos outros, quem sabe até arriscar um oral, como uma grande confraternização, uma ode ao falo. Goys se encaixam nessa denominação, mas ele também não se vê desejoso de um encontro assim.
Conjecturas à parte, o fato é que foi-se o tempo que a orientação sexual das pessoas necessariamente precisa se encaixar em um padrão. Conheço um homem, por exemplo, que se entende como bissexual, prefere fazer sexo com homens, porque sente uma energia mais genitalizada e namorar com mulheres, porque as relações com elas - segundo ele - fluem melhor no sentido da partilha dos afetos. Cada um com seu cada um, não é mesmo?
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Ana Canosa
Colunista de Universa
05/10/2024 19h00
A orientação sexual pode ser mais fluída do que pensávamos. Nem todas as pessoas estão nos extremos, ou seja, se sentem atraídas exclusivamente por pessoas do mesmo sexo ou do outro sexo, e mesmo a bissexualidade tem suas nuances.
Vejam o caso do Ulisses, que se sente atraído por mulheres, mas com frequência tem fantasias sexuais com homens. Passamos algum tempo nos debruçando sobre seus desejos, erotismo, vivências, prazeres. Não chegamos a nenhum rótulo que o identificasse, e - diga-se de passagem - isso nem deveria ser necessário, já que a identidade sexual de cada um de nós é uma somatória de fatores e a atração sexual apenas um deles.
Ele é bissexual? Heteroflexível? Heterocurioso? Homossexual inibido? Há quem se sinta mais confortável quando se vê enquadrado em algum grupo específico, mas ele já passou por essa fase, não está mais preocupado. Não se identifica como um homem gay, mas se atrai pelo pênis alheio, não o restante do corpo masculino.
Em nosso processo terapêutico, descartamos a possibilidade de ele ter uma homofobia internalizada que lhe impedisse de assumir um desejo homossexual. O clássico dos clássicos, não se aplica a seu caso. Ele já experimentou fazer sexo com outro homem e não achou a experiência super excitante. Corpos femininos lhe são bem mais atraentes.
Visitamos a possibilidade de o desejo pelo pênis ser uma espécie de fetiche, já que é uma parte exclusivamente eleita a gerar excitação. Como as pessoas que se atraem por pés, mãos, sapatos.
Embora pareça difícil colocar o pênis como um fetiche - já que muitas pessoas gostam dele - o que nos instiga é a parte destacada do restante do corpo.
Eu já vi isso acontecer, pelas avessas: mulheres, heterossexuais, que não gostam do pênis, mas que gostam de serem penetradas por ele. Não é uma aversão, ou fruto de qualquer vivência traumática - é não achar graça nenhuma naquele volume pendurado no corpo.
Já meu paciente gosta, acha bonito, interessante, erótico, sensual. Nada como um pênis em riste. Se viesse sem o restante, seria perfeito.
É preciso esclarecer que Ulisses gosta da penetração anal, ele tem vários dildos, falos realísticos, vibradores. Quando está excitado faz uso deles para se autoestimular. Uma boa suposição é que seu interesse em pênis seja reflexo desse tipo de prazer, seria como admirar uma melhor "ferramenta" para essa sua prática sexual.
Mas não é exatamente por um homem que ele gostaria de ser penetrado, prefere uma mulher. Mas não encontra muitas que se dispõem a fazer essa prática, o que lhe frustra sobremaneira.
Também houve uma reflexão sobre o pênis ser o grande protagonista da cena sexual, uma ideia bastante reforçada em nossa cultura. Como quando os homens se exibem, uns para os outros, nas brincadeiras pueris.
Existe até um termo que se encaixa nessa perspectiva, a tal "broderagem", quando homens se permitem manipular os pênis um dos outros, quem sabe até arriscar um oral, como uma grande confraternização, uma ode ao falo. Goys se encaixam nessa denominação, mas ele também não se vê desejoso de um encontro assim.
Conjecturas à parte, o fato é que foi-se o tempo que a orientação sexual das pessoas necessariamente precisa se encaixar em um padrão. Conheço um homem, por exemplo, que se entende como bissexual, prefere fazer sexo com homens, porque sente uma energia mais genitalizada e namorar com mulheres, porque as relações com elas - segundo ele - fluem melhor no sentido da partilha dos afetos. Cada um com seu cada um, não é mesmo?
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