Na China, um grupo de universitários amantes de mangás, os quadrinhos japoneses, tem lançado moda e virado alvo de muitas críticas. Tudo porque eles resolveram usar perucas, saias coloridas, cílios postiços e a maquiagem das namoradas para sair de casa vestidos como mulheres.

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Assim como é tradição na ópera chinesa, os jovens crossdressers — ou seja, que aderem a hábitos estéticos do sexo oposto — participam de performances musicais em que interpretam papéis femininos. Mas, em vez de música erudita, a maior inspiração dessa nova geração é pop: o mangá Princess Princess (Princesa, Princesa), que narra a história de três alunos de uma escola para meninos que começam a se vestir como princesas no dia a dia. “Só quero dar vida a esses personagens”, contou Xiao Lu, o cofundador da trupe, que já conta com 300 membros, ao jornal chinês China Daily.

A maioria dos garotos do grupo tem namorada e eles dizem que a popularidade com as meninas aumentou bastante. Também fãs do mesmo sexo têm mostrado gosto pelos shows dos estudantes chineses e, dependendo dos traços físicos, são convidados a fazer parte das apresentações. “Tem de ter pernas longas e finas, um porte não muito robusto e um rosto bonito e delicado”, disse Xiao Lu a outra publicação do país.

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Os jovens, em apresentação no início de abril (Foto: shanghaiist)

Mas a tendência também vem arrancando críticas da sociedade e divide opiniões. Se mesmo no Brasil — onde se debatem tanto liberdade e quebra de preconceitos — o cartunista Laerte foi visto com estranheza quando se assumiu como crossdresser, na China, um país assombrado pelo autoritarismo e pela censura, não seria mais ameno. A mãe de um dos garotos do grupo já tentou impedi-lo de participar das apresentações, por acreditar que o interesse do filho em se vestir como mulher acabaria lhe causando “transtornos sexuais”. Sun Yunxiao, vice-diretor do Centro de Pesquisas de Crianças e Jovens Chineses declarou que “meninos devem assumir responsabilidades, ser masculinos e poderosos” e que os hábitos do grupo são mensagens contraditórias. Os garotos já se dizem acostumados a esse tipo de reação e recomendam aos novatos que passem por cima de críticas negativas.

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Eu, particularmente, acho interessantíssimo que uma experiência assim ganhe voz na China. Mesmo sem intenção, esses jovens estão contestando a política e os códigos sociais do país — e ajudando a propor mudanças. A socióloga chinesa Li Yinhe, por exemplo, disse ao China Daily que não há nada de sexual no hábito desses jovens; é tudo uma questão de amor à arte. “Eles expressam seu interesse por meio das performances.”